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Kyem Ferreiro

Analista de dados, ativista, negro e homem trans. Em 2020 me vi como ativista ao assumir compromisso com o IBRAT, mas em 2013 já participava das ações do movimento trans.

Formado e pós-graduado em Biocombustíveis pelo Instituto Federal do Mato Grosso - IFMT e pela Universidade de São Paulo - USP, aproveitei os conhecimentos adquiridos durante minha formação como pesquisador para ingressar na área de análise de dados.

 

A busca por recursos que possibilitaram uma transição com menos obstáculos, ao menos do ponto de vista acesso à saúde, me trouxe a São Paulo, onde despertei meu interesse pelo movimento transmasculino em 2013. Naquela época, ainda incipiente em minha própria jornada de transição e nos debates políticos sobre raça, classe e gênero, comecei a participar de grupos de estudos virtuais, comparecer a reuniões, trocar experiências com outros membros e até participei do Encontro Nacional de Homens Trans, considerado o maior evento desse tipo na América Latina e no mundo, que reuniu mais de 100 pessoas transmasculinas para discutir nossas demandas prementes.

 

Em 2018, iniciei meu doutorado em Energia na Universidade Federal do ABC - UFABC e tornei-me membro do coletivo Via Goietê, composto por pesquisadores e ativistas, a maioria deles comunistas, que buscam impactar comunidades rurais, ribeirinhas, indígenas e outras, desenvolvendo e implementando projetos que gerem renda ou economizem recursos, como os biodigestores que produzem biogás a partir de resíduos domésticos.

 

No mesmo ano, abraçando os princípios do 'Open Science' e outros conceitos de compartilhamento gratuito, coletivo e colaborativo do conhecimento, tornei-me professor no Cursinho Transformação, onde atuei por um ano, compartilhando conhecimentos com pessoas trans que participavam do projeto, com o objetivo de ajudá-las a retomar seus estudos e ingressar em instituições de ensino. Também nesse ano, junto com companheiros de luta na UFABC, batalhamos pela aprovação das cotas para pessoas trans.

 

Em 2020, participei da reunião de reestruturação do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades - IBRAT e assumi o cargo de coordenador geral do IBRAT SP, sucedendo a figuras proeminentes como Lam Matos e Alexandre Peixe, que já tinham ocupado essa posição.

 

Apesar dos desafios, o núcleo carecia de membros ativos, e durante os anos de 2021 e 2022, com uma nova estrutura e a adição de novos membros, conseguimos concretizar conquistas significativas para a vida das pessoas transmasculinas. Para dar continuidade a esse legado de luta, fortalecemos nossa atuação direta junto aos órgãos do Estado, ocupando assentos no Comitê Municipal de Saúde LGBT+ e promovendo palestras para os funcionários da Rede SampaTrans, bem como outros serviços voltados para a população trans e a comunidade em geral. Além de outras ações junto a Secretaria Municipal de Saúde como, por exemplo, a realização do evento ‘ Outubro não é rosa, é da cor de quem tem peito’. 

 

Outras estratégias para fortalecer nossas iniciativas incluíram a busca por espaço para expressão em eventos políticos, como a Caminhada Trans, Marcha Trans, Parada Preta e Parada LGBTQIAPN+, além de reuniões com líderes de movimentos e a participação em frentes parlamentares LGBTIQA+ para combater os ataques à comunidade.

 

Com o objetivo de aproximar o IBRAT SP da população transmasculina, desenvolvemos uma frente específica para trabalhar diretamente com a saúde coletiva, estabelecendo conexões e acompanhando de perto os coletivos e indivíduos envolvidos.

Em 2021, por meio da indicação de Alexandre Peixe, aceitei o convite do CoNTU para representar o movimento social como o IBRAT. Desde então, tenho ocupado esse importante espaço, o que me permitiu levar ao Núcleo TransUnifesp o interesse em desenvolver duas pesquisas em parceria. Após uma reunião inicial com o diretor do Centro de Referência e Treinamento - CRT, onde muitas pessoas transmasculinas e outras identidades de gênero recebem apoio multidisciplinar para atender suas demandas, e com um parecer favorável do CRT, avançamos com a pesquisa, que está em andamento.

 

Em 2023, com o apoio dos meus colegas de militância do IBRAT SP, pude finalmente realizar um evento que havia idealizado há anos. Com um formato inovador e descontraído, esse evento permitiu que a população transmasculina se reconectasse com suas raízes e referências de luta, homenageando aqueles que são os transcentrais vivos e valorizando suas contribuições. Foi uma oportunidade de ouvir suas experiências passadas e se inspirar para continuar a luta.

 

Hoje, continuo na posição de coordenador do núcleo São Paulo, com uma convicção ainda mais forte do que no início. O núcleo tem progredido de maneira notável e deixado um legado significativo na melhoria da vida das pessoas transmasculinas.

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